sábado, 2 de março de 2013

Labirinto - Prisioneiros da Imaginação!

  
Após anos de criação deste programa dos anos 90, eles falam em uma entrevista ao nosso blog sobre este trabalho que agora está na internet. 

Sucesso nos anos 90, todos os sábados e domingos, do meio dia à uma da tarde o programa Labirinto trazia para os ouvintes até duas histórias inéditas sobre temas diversos, inspiradas no mundo do RPG (Role Playing Games, ou jogos de representação). A proposta resgatou as radio-novelas, gênero que perdeu terreno no Brasil com a popularização da teledramaturgia, a partir dos anos 60, e deu a elas um tratamento inovador, voltado para o público jovem.
Além disso, as histórias traziam o elemento da interação, com a possibilidade de os ouvintes decidirem os rumos dos personagens, semelhante ao programa Você Decide que foi exibido pela Rede Globo. As mais de 70 histórias foram inteiramente produzidas por alunos da USP que, na época, não tinham nenhuma experiência prévia de rádio. Além de escrever e interpretar as histórias, eles também eram responsáveis pela complexa sonografia das aventuras.
    Labirinto – Prisioneiros da Imaginação foi ao ar na Rádio USP (94,7 FM) entre agosto de 1994 e janeiro de 1996. O programa chegou a receber cerca de cem ligações de ouvintes em uma só transmissão o que prova a grande audiência e o sucesso que o programa fez. Se você não conheceu o programa, acesse o site www.prisioneirosdaimaginacao.com.br e conheça histórias transmitidas pelo programa que foi fruto de anos de esforço por parte dos produtores, que tiveram que digitalizar cada uma delas.Além de apresentar as histórias originais, o site também destaca novas histórias em áudio, algumas com possibilidade de interação como nos programas originais, além de histórias curtas (sem interação) e adaptações de obras literárias.
   Arcano 9, Haqeen, Hugh d’Morville, Neanderthal e Malone foram os produtores do LABIRINTO, e após anos de criação deste programa eles falam em uma entrevista ao nosso blog sobre este trabalho que agora está na internet.
Quando surgiu à idéia de fazer o Labirinto no rádio, vocês imaginaram que iria fazer sucesso?
E fizemos sucesso? (risos) Antes de implementar o programa não imaginávamos que iria ser tão popular, que iria abarcar um público não familiarizado com o RPG. No primeiro fim de semana do Labirinto, recebemos meia dúzia de ligações de ouvintes. Nos últimos dias do programa, eram mais de cem - e muita gente reclamava que não conseguia ligar. Acho que nenhum de nós esperava isso, não... Mas já no final das transmissões, imaginávamos que poderíamos ter um sucesso ainda maior, já que o baixo alcance da Rádio USP da época limitava nossa audiência – muita gente nunca ouviu falar do Labirinto. Este desconhecimento poderia esconder uma potencial audiência. Mas, no fundo, nunca – nem mesmo agora – tivemos a real dimensão do “sucesso” do Labirinto, de quanta gente o Labirinto tocou, de quantos gostavam do Labirinto como nós gostávamos dele. Foi depois de criar o website que os antigos ouvintes tiveram a oportunidade de enviar mensagens muito emocionantes.
Porque o nome “prisioneiros da imaginação”?
Era assim que nós nos sentíamos: presos aos nossos incríveis mundos imaginários e relutantes em encarar um mundo real que nos parecia chocho e enfadonho. “Imaginação” é a ideia básica do que propomos e a ideia básica do RPG: aventuras sem fronteiras, cujos limites iam até onde o exercício da fantasia nos conseguia levar. “Prisioneiros” são aqueles que atravessam o “Labirinto”, o Labirinto da Imaginação. Figurativamente éramos nós, produtores, querendo que os ouvintes entrassem nessa também. “Prisioneiros da Imaginação” remete a um capturado – capturado pela imaginação, pela fantasia e pelo sonhar acordado, que era melhor que o mundo real. Esta imersão é a imagem que está por trás do RPG e do programa Labirinto. “Labirinto” em si foi inspirado no nome “Dungeons & Dragons” (Masmorras & Dragões), o primeiro sistema de RPG a ser criado. Achamos “Labirinto” mais sonoro que “Masmorra”. Mas antes mesmo de “Labirinto” escolhemos “Catacumba, Prisioneiros da Imaginação” para o programa. Ao que apresentamos “Catacumba”, a Rádio teve o bom senso de pedir para que trocássemos o nome.
Vocês se apresentam como Arcano 9, Haqeen, Hugh, Neanthertal e Malone. De onde surgiu estes nomes?
São todos personagens de RPG com os quais jogamos aventuras, menos o Arcano 9. O personagem de RPG do Arcano 9 era o mago Von Lewer – aquele que aparece na nossa primeira história, “Britúnia”. Mas, na hora da definição dos nomes, o Arcano preferiu este outro nick, inspirado no tarot. Hugh D’Morville foi um personagem templário, um monge-guerreiro. Haqeen, um guerreiro mouro. Neanderthal, um brucutu. Malone era um mero camponês, alçado à fama e à fortuna por total acaso: um caipira simplório no meio daqueles guerreiros e magos heróicos... Juntos nós formávamos, tanto no RPG quanto na vida real, um quinteto de elementos muito diferentes entre si – uma espécie de exército bizarro – mas que funcionava muito bem em conjunto.
Foi difícil conseguir um espaço na rádio USP para apresentar o programa?
Esta é uma história curiosa: conseguimos o espaço por acidente. Na época, visitamos algumas rádios para viabilizar o Labirinto, almejando todas menos as duas rádios públicas de São Paulo: A Rádio Cultura e a Rádio USP, já que a intenção era conseguir patrocínio. Em paralelo, o Arcano 9 respondia a uma oferta de estágio na Rádio USP. Na entrevista, ele comentou por cima que o veículo rádio permite projetos legais como um programa baseado em aventuras de RPG. A Rádio, que estava em um momento de reformulação da programação, ficou muito interessada e quis ouvir o piloto. O Arcano 9 não conseguiu o estágio, mas conseguiu o Labirinto na grade. Portanto, se foi difícil conseguir espaço na Rádio USP: foi fácil demais, pois fomos convidados! Vendo em retrospectiva, a Rádio USP foi o único lugar em que o Labirinto poderia ser viabilizado e experimentado. Era para ser do jeito que foi.
Para fazer a sonoplastia das histórias vocês utilizavam estúdios próprios? Como era feita a sonoplastia?
Toda a sonoplastia era realizada nos estúdios da Rádio USP. E era toda analógica. Usávamos fitas de rolo... Hoje isso é impensável. Na época, passávamos o áudio das falas com os efeitos sonoros para uma segunda fita e esta última para uma terceira fita com as trilhas sonoras de fundo. A terceira fita era a que iria para o ar. Era um processo artesanal, trabalhoso e demorado. Mas, em compensação, tinha uns operadores de som na Rádio USP bastante competentes (e experientes), o que refletiu na qualidade final do programa.
Percebe-se que nas histórias narradas pelo Labirinto, têm sempre uma pitada de humor entre uma história e outra. Isto era intencional ou acontecia sem querer?
Parte era intencional, parte era acidente. Nós nos divertíamos muito nas gravações, e achamos que esse bom-humor transparecia no produto final. E o perfil das histórias do Labirinto refletia muito a personalidade dos seus autores. O Hugh fazia histórias épicas, o Malone as de humor, o Haqeen histórias de terror e o Arcano 9 fazia as histórias com temas inusitados. O Neanderthal não escreveu por tanto tempo quanto os outros para determinar um estilo. Mas o convívio era muito bem humorado e as piadas muito freqüentes. O texto se impregnava por este clima.
Por qual motivo, encerraram as transmissões do programa pela rádio?
Aos poucos fomos abandonando o barco. A maioria dos integrantes estava chegando ao final da faculdade. Cada um começou a priorizar outros projetos próprios. O Labirinto foi um programa voluntário – ou seja, não ganhávamos nada com ele – e demandava muita dedicação dos produtores e dos colaboradores. Para se ter uma ideia, cada programa de uma hora levava, aproximadamente, 16 horas entre produção e apresentação. Como não víamos perspectivas financeiras com a atividade, o ânimo geral foi esmaecendo. O pessoal decidiu acabar com o programa e ir arrumar emprego ao final de 1995.
Hoje trabalham ainda na área de Comunicação?
Embora quatro dos cinco integrantes do Labirinto tenham se formado em Comunicação Social, apenas um trabalha na área atualmente. Curioso, não?
Vocês pensam em trazer o Labirinto de volta para o rádio?
Agora para os antigos ouvintes que se sentiram abandonados com o término do programa: sempre existiu a idéia de voltar, apesar de menos intensamente nos últimos anos. Logo após o término, batemos na porta de várias rádios. Distribuímos áudio de demonstrações no mercado. Tentamos voltar para a Rádio USP em duas ocasiões diferentes. Em resumo, os diretores das rádios acham que um programa deste tipo não dá audiência por ser longo e por ter um público muito específico (nós discordamos, claro). Tentamos também os grandes portais de internet... 12 anos depois, em 2007, lançamos o site do Labirinto. A Internet, incipiente durante o Labirinto, abriu novas possibilidades para a veiculação de histórias gravadas bem como criou um canal que, como foi mencionado, fez com que muitos ex-ouvintes pudessem entrar em contato conosco, o que para nós é incrível. Se voltássemos para o rádio seria muito legal. Não descartamos a idéia.
E para finalizar, que mensagem deixariam para os que foram (e continuam sendo agora pela Internet) fãs do programa Labirinto?
Se há mais de 16 anos do término do programa você nos procura na Internet, se trouxemos um pouco mais de alegria àqueles dias e lhe deixamos boas lembranças, tudo isso é mais que o esperado. Sentimo-nos muito honrados e agradecidos em saber que ainda há gente que gosta de ouvir as nossas histórias, ainda há ouvintes que se lembram com carinho do nosso trabalho, e que ainda há aqueles que se consideram nossos fãs. Obrigado! Isso é inestimável. Como mencionamos, nunca soubemos de fato o impacto do programa. Foi depois do nosso aparecimento na Internet que velhos ouvintes puderam entrar em contato e nos enviar mensagens emocionantes. Isso nos faz valorizar ainda mais a experiência que foi ter participado do Labirinto, um programa que, acreditamos, foi maior que a soma das suas partes.
O Destak no blog agradece a colaboração e entrevista dos produtores do Labirinto.
 

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